Bom para a tosse e bom para o clima.


Que o mel é bom para a tosse todos sabemos. E não só para a tosse: o mel de algumas abelhas nativas é bom para os olhos, para o sistema imunológico, para a circulação sanguínea, para a pele, para os cabelos e por aí vai uma longa lista de utilidades cosméticas e funcionais.

Para os top chefs da nova gastronomia brasileira, o mel das abelhas brasileiras sem ferrão também é bom para temperar carnes e como ingrediente tanto em pratos salgados refinados como em confeitaria. “E ainda estamos no início da descoberta das possibilidades culinárias deste ingrediente, o que para nós é uma oportunidade sensacional”, declarou José Barattinochef de cozinha do restaurante paulistanoEmiliano, ao participar do evento culinário Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, emBelém (PA), em abril passado.
Barattino testou o mel produzido no município de Curuçá, no nordeste do Pará, por famílias capacitadas pelo Instituto Peabiru, uma organização não governamental sediada na capital paraense e dirigida por João Meirelles, com foco na valorização dadiversidade cultural e ambiental da Amazônia por meio do apoio a processos de transformação social. O programa existe desde 2007, com recursos da Petrobras Ambiental e inclui 350 famílias da região entre o Pará e o Amapá, no baixo rio Amazonas.
“Fazemos a capacitação de produtores para a criação de abelhas nativas somente com as espécies de cada região ou comunidade”, explica Richardson Frazão, do Peabiru. “Não incentivamos a introdução de espécies e/ou colônias para evitar problemas de dispersão de parasitas, vírus e outros organismos que podem causar problemas para a fauna local”.
Todas as espécies são do gênero Melipona. Em Curuçá, pescadores, coletores de mariscos e agricultores aprenderam a trabalhar com as espécies uruçu-cinzenta (Melipona fasciculata) e uruçu-amarela (M. flavolineata). Perto de Macapá, no Amapá, as comunidades quilombolas antes dedicadas somente à criação de búfalos e agricultura de subsistência agora criam outra espécie de uruçu-amarela (M. fulva), além de uruçú-alaranjada (M. paraensis) e tiúba-rosilha (M. compressipes). As duas últimas espécies também são a opção dos extrativistas de castanha e de açaí e pescadores dos municípios de Almeirim e Monte Alegre e dos indígenas do Oiapoque, que ainda trabalham com uma terceira espécie, chamada pinto-de-velho (M. laterallis).
Mel como alimento funcional e ingrediente cosmético ou culinário, tudo bem. Criação de abelhas nativas para aumentar a renda de pequenos produtores, ok também. Mas o que minúsculos insetos têm a ver com mudanças climáticas? Bem, em primeiro lugar, a conservação e a criação de abelhas nativas favorece a renovação da floresta, garantindo a reprodução das árvores que delas dependem para apolinização.
“Quando são manejadas pelas comunidades, as abelhas formam um verdadeiro cinturão de defesa da floresta, garantindo a produção de alimentos (frutos) e assegurando que determinada área de floresta se mantenha como ‘pasto’ para elas mesmas, as abelhas”, argumenta Frazão. Mais importante, a criação de abelhas incentiva as comunidades a manterem a floresta em pé.
Em outras palavras, as abelhas ajudam a evitar desmatamentos e, sobretudo,queimadas. Isso, somado à sua contribuição para a renovação das espécies florestais se traduz na fixação de carbono e, portanto, em uma contribuição para aestabilização do clima. Segundo os cálculos realizados pelo pessoal do Instituto Peabiru, cada quilo de mel produzido nas comunidades da floresta amazônica fixa 16 kg de carbono. “Nesse contexto, o ciclo abelhas, homem e florestas torna-se sustentávele completo”, arremata Richardson Frazão. E quanto mais abelhas e mais mel, melhor o serviço ambiental, poderíamos acrescentar sem pestanejar.
O gargalo, como sempre, é fazer chegar o mel da floresta aos centros consumidores, algo que, por enquanto, o Instituto Peabiru ajuda a resolver, mas em breve deve ficar a cargo dos produtores amazônidas para garantir igualmente a sustentabilidade financeira.
Então, quem aí quer adotar um melzinho de Melipona em sua dieta?
Liana John
Fotos: Instituto Peabiru

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